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Sobre “luxo” e “requinte” Janeiro 11, 2011

Posted by Rafael in islam, tradição.
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Lendo o óptimo artigo publicado no Chakubuku Aaryasattva, lembrei duma outra face de gente que busca glamorização: os “tradicionalistas de boutique”, o lado mais chique da madame da nova era que procura os mestres ascensos e as missas de magia branca da “Fraternidade Branca”.

Os tradicionalistas de boutique possuem um comportamento bem parecido com a madame leitora de Paulo Coelho e que encaminha 15 emaisl por dia com slides “edificantes”.  Mas também estão atrás de luxo e requinte: ou seja, de frescura. Da mesma forma que as madames, a busca começa por um local “exótico”: uma paróquia da FSSPX, uma paróquia ortodoxa, uma mesquita… Na paróquia ortodoxa, chegam importunando o coitado do pobre com o “hesicasmo”. Ainda nem receberam o batismo ou a crisma, mas desejam aprender as técnicas de oração reservada aos monges experimentados. E os anos de práticas necessárias para o hesicasmo? Não precisam, pois receberam todas as qualifacações iniciáticas nos livros de Guénon.

Desejam ser “hesicastas” sem praticar a dieta monástica, sem a renúncia e os votos e, principalmente, sem a reclusão. Pois não precisam de reclusão e não podem praticá-la: precisam se juntar com outros tradicionalistas para tomar chá tradicional, acompanhado por tabaco tradicional e confeitados tradicionais. Discutem com bastante elegância a teologia palamita, conhecem da vida do Monge Simeão, andam pra lá e pra cá com sacolas de livros. Mas quando começam a receber cobranças sobre jejum, confissão e comportamento, desgostam da vida ortodoxa pois “o padre não entende de hesicasmo, esta paróquia está degenerada”.

Semelhante ao caso dos tradicionalistas que buscam uma “missa tradicional”. E todos com delírios de cruzados. Mas ao invés de combater hereges, escolhem xingar pela internet todo não-católico. “Gnóstico”, “cismático” e  “conciliarista” são as palavras mais utilizadas. Mas escondem de seus padres integristas suas preferências “tradicionais”, pois estão ali atrás d’algum “resquício” da Tradição Ocidental – e ignoram que a missa que tanto idolatram é uma fabricação de Pio V, para sufocar os outros ritos ocidentais e com isso diminuir a influência de outras sés importantes do Ocidente, que não estavam a escapar da dura vigilância da monarquia papista. Mas com o tempo, também desgostam da brincadeira “estou na batalha de Lepanto”.  “Guénon estava certo, aqui só há ritos eXotéricos”, “o padre é ignorante e integrista” e então partem, batendo os pézinhos esotéricos.

Na mesquita, começam com entusiasmo: compram as vestes típicas, vão com o tarbush até no banco,  começam a especular sobre tariqa… Mas também não querem saber de seguir todas as práticas, de aprender o árabe, de ler o Corão e seus grandes comentadores… Afinal, não precisam de nada disso: aprenderam o islam com o Shiekh Abdul Wahed Yahia. Não demora muito e também partem, outra vez com ar de superioridade. Afinal, o padre ortodoxo não aprendeu Cristianismo com Guénon, o padre da FSSPX não aprendeu Cristianismo com Guénon, o Sheikh ficou a perder tempo na Arábia Saudita e não aprendeu com Guénon.

Nos resta, agora, esperar que tal elite iluminada e, principalmente, entendedora do luxo e requinte espiritual, deixe seus isolamentos e exílios orkutianos e venha de sua Agartha para iluminar todos os sacerdotes do mundo, para que todos possamos provar do requintado luxo tradicionalista, com suas hierarquias, transmissões e operações intelectuais. Só assim ficaremos livres dessa chatice chamada ascetismo, imposta pela súcia atual de religiosos como algo necessário para a libertação.